Olá, pessoal!
O assunto de hoje é, na verdade, um estímulo à reflexão
sobre a língua. O que vocês entendem por Língua Portuguesa? Vocês acham mesmo
que o conjunto das regras que constituem a norma culta ensinada nas escolas
pode definir, de modo completo, o que compreendemos por língua – seja ela portuguesa,
francesa, inglesa, etc.?
Na verdade, é importante reconhecer a existência de inúmeras
formas de expressão da linguagem. Como bem destaca Roberto
Camacho, as diferenças entre os idiomas estão longe de ser o único fator de
diversidade linguística; dessa maneira, dentro de uma mesma língua, existe o
processo de variação.
Vocês já repararam que, no Brasil, nordestinos, gaúchos,
paulistas, cariocas e os demais grupos de cada região falam de modo um tanto
diferente, com pronúncia particular e palavras características? Pois é... Essas
variações todas fazem parte do fenômeno chamado “Língua Portuguesa”. Acontece
que não são apenas as diferenças geográficas que configuram as variantes da
língua. Há, também, fatores de natureza histórica, cultural e estilística que
promovem as mudanças no português. No primeiro caso – variação histórica –,
vale a pena compararmos, por exemplo, a forma como os jovens conversam hoje e a
maneira como os nossos avós ou bisavós ainda se comunicam. Existe diferença,
não é? As palavras e a entonação de alguns vocábulos mudaram ao longo do tempo.
Outro exemplo de variação histórica merece ser observado: as modificações
sofridas pelo pronome “você” no decorrer dos séculos. Prestem atenção na evolução do pronome:
Vossa Mercê > vossemecê > vosmecê > vosm’cê > voscê >
você > ocê > cê
*** É isso mesmo, pessoal! Hoje, o “você” – principalmente na
fala – já é entendido como “cê”.
Sobre a variação cultural, é necessário ressaltar que ela é
impulsionada por fatores socioeconômicos e, ainda, socioculturais. Falantes de
uma mesma comunidade, portanto, podem se comunicar de modos diferentes, uma vez
que cada indivíduo apresenta a sua própria “bagagem cultural”, além de pertencer
a níveis econômicos distintos e de apresentar grau de educação, idade e/ou gênero
também diferente(s). Resumindo, ninguém é igual a ninguém e, assim, a forma de
se comunicar das pessoas também é distinta, a menos que os falantes estejam
submetidos às mesmíssimas condições contextuais e culturais. Há, inclusive, a
variação estilística, que ocasiona a possibilidade de mudança no jeito de falar
ou de escrever de cada cidadão. Por meio desta última variante, comprova-se que
o usuário da língua pode ajustar a maneira de utilizá-la a depender do contexto
em que ele se insere. Cada situação exige que o indivíduo adeque a sua maneira
de falar ou de escrever (ao expor um trabalho em uma conferência, falamos de um
jeito; ao conversar com os amigos, falamos de outro).
Ah! Então quer dizer que, na língua, vale tudo e não é
necessário aprender as normas da gramática tradicional? Não, gente! Na verdade,
como aponta Marcos Bagno, “tudo na língua tem o seu valor” (afinal, depende de
uma série de fatores, conforme destacado), mas é fundamental que as pessoas
tenham acesso às formas linguísticas mais prestigiadas socialmente, até mesmo
porque essas manifestações são as mais aceitas e as mais solicitadas no mundo
do trabalho, dos concursos e dos vestibulares.
Para concluir, reflitamos sobre o seguinte: além da variante
“culta” do português, existem diversas outras expressões linguísticas. É preciso,
consequentemente, que saibamos que a língua é rica, heterogênea e sujeita a
mudanças. A forma de se comunicar utilizada pelo indivíduo não deve ser
categorizada como “melhor” ou “pior” do que a de ninguém, já que talvez essas
expressões sejam apenas diferentes da norma dita culta. Tolerância, respeito e
conhecimento são sempre bem-vindos!
Espero que tenham gostado do assunto.
Até breve.
Jaqueline.
Referências:
CAMACHO, R. G. Variação linguística. In: SÃO PAULO (Estado) Secretaria da
Educação, Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas. Subsídios à proposta
curricular de língua portuguesa para o 1º e 2º graus. São Paulo: SE/CENP, 1988.
BAGNO, M. Não é errado falar assim: em defesa do português brasileiro. São Paulo: Parábola, 2009.
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