sexta-feira, 4 de abril de 2014

Reflexão sobre a língua: um pouquinho de sociolinguística

Olá, pessoal!
O assunto de hoje é, na verdade, um estímulo à reflexão sobre a língua. O que vocês entendem por Língua Portuguesa? Vocês acham mesmo que o conjunto das regras que constituem a norma culta ensinada nas escolas pode definir, de modo completo, o que compreendemos por língua – seja ela portuguesa, francesa, inglesa, etc.?
Na verdade, é importante reconhecer a existência de inúmeras formas de expressão da linguagem. Como bem destaca Roberto Camacho, as diferenças entre os idiomas estão longe de ser o único fator de diversidade linguística; dessa maneira, dentro de uma mesma língua, existe o processo de variação.
Vocês já repararam que, no Brasil, nordestinos, gaúchos, paulistas, cariocas e os demais grupos de cada região falam de modo um tanto diferente, com pronúncia particular e palavras características? Pois é... Essas variações todas fazem parte do fenômeno chamado “Língua Portuguesa”. Acontece que não são apenas as diferenças geográficas que configuram as variantes da língua. Há, também, fatores de natureza histórica, cultural e estilística que promovem as mudanças no português. No primeiro caso – variação histórica –, vale a pena compararmos, por exemplo, a forma como os jovens conversam hoje e a maneira como os nossos avós ou bisavós ainda se comunicam. Existe diferença, não é? As palavras e a entonação de alguns vocábulos mudaram ao longo do tempo. Outro exemplo de variação histórica merece ser observado: as modificações sofridas pelo pronome “você” no decorrer dos séculos.  Prestem atenção na evolução do pronome:

Vossa Mercê > vossemecê > vosmecê > vosm’cê > voscê > você > ocê > cê 
*** É isso mesmo, pessoal! Hoje, o “você” – principalmente na fala – já é entendido como “cê”.

Sobre a variação cultural, é necessário ressaltar que ela é impulsionada por fatores socioeconômicos e, ainda, socioculturais. Falantes de uma mesma comunidade, portanto, podem se comunicar de modos diferentes, uma vez que cada indivíduo apresenta a sua própria “bagagem cultural”, além de pertencer a níveis econômicos distintos e de apresentar grau de educação, idade e/ou gênero também diferente(s). Resumindo, ninguém é igual a ninguém e, assim, a forma de se comunicar das pessoas também é distinta, a menos que os falantes estejam submetidos às mesmíssimas condições contextuais e culturais. Há, inclusive, a variação estilística, que ocasiona a possibilidade de mudança no jeito de falar ou de escrever de cada cidadão. Por meio desta última variante, comprova-se que o usuário da língua pode ajustar a maneira de utilizá-la a depender do contexto em que ele se insere. Cada situação exige que o indivíduo adeque a sua maneira de falar ou de escrever (ao expor um trabalho em uma conferência, falamos de um jeito; ao conversar com os amigos, falamos de outro).
Ah! Então quer dizer que, na língua, vale tudo e não é necessário aprender as normas da gramática tradicional? Não, gente! Na verdade, como aponta Marcos Bagno, “tudo na língua tem o seu valor” (afinal, depende de uma série de fatores, conforme destacado), mas é fundamental que as pessoas tenham acesso às formas linguísticas mais prestigiadas socialmente, até mesmo porque essas manifestações são as mais aceitas e as mais solicitadas no mundo do trabalho, dos concursos e dos vestibulares.
Para concluir, reflitamos sobre o seguinte: além da variante “culta” do português, existem diversas outras expressões linguísticas. É preciso, consequentemente, que saibamos que a língua é rica, heterogênea e sujeita a mudanças. A forma de se comunicar utilizada pelo indivíduo não deve ser categorizada como “melhor” ou “pior” do que a de ninguém, já que talvez essas expressões sejam apenas diferentes da norma dita culta. Tolerância, respeito e conhecimento são sempre bem-vindos!


Espero que tenham gostado do assunto.
Até breve.
Jaqueline.






Referências: 
CAMACHO, R. G. Variação linguística. In: SÃO PAULO (Estado) Secretaria da 
Educação, Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas. Subsídios à proposta 
curricular de língua portuguesa para o 1º e 2º graus. São Paulo: SE/CENP, 1988.
BAGNO, M. Não é errado falar assim: em defesa do português brasileiro. São Paulo: Parábola, 2009.

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