sexta-feira, 30 de maio de 2014

MEIO, BASTANTE, MESMO, ANEXO, QUITE, MENOS, ALERTA, etc.: os casos especiais de concordância nominal

Olá, pessoal. Tudo bom? Hoje extraí todos os meus dentes do siso e, por isso, estou com bastante dor. Mesmo assim, senti-me animada para escrever algumas dicas práticas de Gramática Normativa para vocês. Vamos lá!

Sabemos que, quando o assunto é CONCORDÂNCIA NOMINAL, a regra geral é a que prescreve o seguinte: o(s) adjetivo(s) concorda(m), em gênero e em número, com o substantivo (núcleo do sintagma) a que se refere(m), como em:
Flores raras. => O adjetivo “raras” concorda, em gênero (feminino, no caso) e em número (plural) com o núcleo substantivo “flores” (palavra feminina, no plural).
Até aqui, tudo parece muito bom e muito simples, não é? Existem, no entanto, algumas situações um pouco mais complexas, como quando o mesmo adjetivo se refere a dois ou mais substantivos (ex.: “Tenho por vocês claro respeito admiração”). Esse assunto poderá (e deverá!) ser abordado em outra postagem, haja vista a quantidade significativa de regrinhas para alguns casos semelhantes ao apresentado. Hoje vamos tratar, mais particularmente, das situações especiais de concordância nominal.


Concordância com MESMO, PRÓPRIO, JUNTO, INCLUSO, QUITE e ANEXO:
Todas essas palavrinhas, quando assumem a função de ADJETIVO, flexionam-se de acordo com o substantivo a que se referem. Dessa maneira:
Ela MESMA fará o discurso amanhã.
- A PRÓPRIA Joana assumiu a culpa pelo atraso.
- As minhas filhas sempre vão JUNTAS para a escola.
- Todas as taxas já estão INCLUSAS.
- É evidente que, a partir de agora, todos nós estamos QUITES.
- Os arquivos seguem ANEXOS ao e-mail.

ATENÇÃO TRIPLA!!!
1) A palavra “ANEXO”, quando acompanhada da preposição “em”, torna-se invariável. Assim, “OS ARQUIVOS ESTÃO EM ANEXO” (no singular mesmo).
2) A palavra “MESMO”, quando assume o caráter de advérbio (= realmente), fica invariável. Dessa forma, “NÓS GOSTAMOS DE FRUTAS MESMO” (= realmente, de fato).
3) “JUNTO”, quando acompanhado de preposição antecedente (“de”, “a” ou “com”), fica invariável: “OS DOCUMENTOS SEGUEM JUNTO COM O / DO TERMO DE RESPONSABILIDADE”.


Concordância com MEIO e BASTANTE:
Quando essas palavras funcionam como adjetivos, concordam, em gênero e em número, com o núcleo substantivo:
a) O Pedro quis tomar apenas MEIA cerveja hoje (MEIA = METADE).
b) Eu tomei vários MEIOS cálices de vinho ontem (vários MEIOS = várias METADES).
c) Há BASTANTES pessoas no salão de shows.
d) Tinha BASTANTE gente prestando o concurso de ontem.

 Essas mesmas palavras, contudo, ficam invariáveis quando assumem o valor de advérbio:
a) Percebi que a primeira candidata estava MEIO nervosa na entrevista (MEIO = UM POUCO, UM TANTO).
Aqui, a palavra “meio”, por funcionar como advérbio, não concorda com o substantivo “candidata”.
b) Nós gostamos BASTANTE de estudar Língua Portuguesa (BASTANTE = MUITO).
Nesse caso, "bastante" contempla o sentido de intensidade em relação ao verbo “gostar”, ou seja, apresenta o mesmo funcionamento do advérbio intensificador “muito”.
Percebam que, quando essas palavras estiverem relacionadas ao substantivo, elas serão variáveis e, portanto, sofrerão flexão de acordo com o próprio núcleo substantivo a que se referirem. Quando estiverem relacionadas ao verbo, atribuindo intensidade a ele, deverão permanecer invariáveis, justamente por adquirirem status adverbial (conforme a própria expressão indicia, “[ad]vérbio” é o termo que se relaciona com o verbo).


CONCORDÂNCIA COM “ALERTA” E “MENOS”:
Essas palavras permanecem invariáveis; por isso, temos o seguinte:
a) Os soldados estão sempre ALERTA.
b) Na palestra deste ano, havia MENOS pessoas.
Galera, aproveito para destacar que, de acordo com a Gramática Tradicional, a palavra MENAS não deve ser utilizada nunca, ainda que se refira a um substantivo feminino.

 É só isso. Abraços. Bom final de semana!



sexta-feira, 23 de maio de 2014

Sinto UMA DÓ ou UM DÓ? As atribuições de gênero na Língua Portuguesa

Bom dia, pessoal! Tudo bem?
A dica de hoje é sobre o gênero do substantivo "". Vamos lá...
A palavra “dó”, na Língua Portuguesa, é classificada como um substantivo do gênero MASCULINO, que significa “sentimento de compaixão, de piedade ou de grande pesar”. Por essa razão, o mais adequado é dizer que “sinto UM DÓ danado quando vejo a Maria chorar”.
A grande maioria dos falantes do português, no entanto, atribui ao substantivo “dó” o gênero feminino e, assim, diz que “sente UMA dó [...]”. Possivelmente os falantes associem essa palavra ao termo “pena”, que é um substantivo feminino (“O Joaquim está com muita pena do Fernando”) e pode igualmente significar “compaixão”, “tristeza”.
Essa atribuição inadequada de gêneros ao substantivo também acontece com a palavra “alface”, que, por sua vez, é FEMININA (portanto, A ALFACE), mas que, na linguagem coloquial, é produzida como substantivo masculino (“o alface”) - talvez por influência da expressão “ (o) pé de alface”. 
*** Percebam que o termo DÓ, embora masculino, é percebido como feminino; ao contrário de ALFACE, que é feminino, mas ocorre como masculino!
De qualquer forma, é importante sabermos quais são as expressões ditadas pela Gramática Padrão. Não podemos fechar os olhos, contudo, para as mudanças que acontecem naturalmente na língua, graças à frequência de uso por parte dos falantes. No caso da palavra “dó”, como bem observa Bagno no livro Não é errado falar assim (2009, p. 146), verifica-se que

O uso de no feminino já aparece até em letras de música compostas por alguém como Arnaldo Antunes, que, além de músico, é também um poeta criativo, original, respeitado pela crítica como bom conhecedor e usuário da língua literária. É o caso, por exemplo, da bela ‘De mais ninguém’, parceria dele com Marisa Monte, cujos primeiros versos são:
Se ela me deixou,
A dor é minha só,
Não é de mais ninguém;
Aos outros eu devolvo a dó,
Eu tenho a minha dor.

De qualquer modo, saibamos que DÓ, ao contrário de ALFACE (peço desculpas pela falta de relação de sentido entre os termos!), é um substantivo masculino de acordo com as normas cultas da Língua Portuguesa. Se quisermos e precisarmos seguir os preceitos da Gramática Padrão, é necessário ter em mente a dica de hoje.

Abração.

terça-feira, 20 de maio de 2014

“HÁ” ou “A”?: noções de tempo

Olá, pessoal! Tudo bom?
Na escrita, as pessoas geralmente ficam confusas em relação ao emprego do verbo “há” (haver) ou da preposição “a” para a indicação de tempo. Uma dica simples para diferenciar o uso das duas formas é a seguinte: o verbo “HAVER” é utilizado com a noção de TEMPO DECORRIDO, ou seja, de tempo PASSADO, a partir do momento atual. A preposição “A”, em contrapartida, é utilizada para fazer referência a noções temporais FUTURAS, ou seja, que ainda acontecerão. Vejamos as diferenças:

HÁ/HAVIA (HAVER - verbo):
Estou sem comer chocolate HÁ quase dois anos.
Não vejo a Paula HÁ mais de cinco semanas.
Os irmãos não paravam de brigar HAVIA mais de quatro horas.

A (preposição):
Daqui A uma semana, será o casamento.
Estamos A poucos meses das próximas eleições.

Fácil, não é?
Abraços.

                 

sexta-feira, 16 de maio de 2014

MANIA DE EXPLICAÇÃO: definições mais simples para coisas complicadas da vida

Montagem com as páginas do livro (por JPadovani)


Para este fim de semana, que tal uma visão mais espontânea e menos complicada do mundo? O frescor do olhar de uma criança pode ajudar-nos a simplificar aquilo que nos parece tão difícil. 
No livro Mania de Explicação, de Adriana Falcão, são dadas diversas definições para inúmeras coisas (na maioria, sentimentos) que, muitas vezes, não conseguimos explicar de forma natural e autêntica. Por meio do olhar de uma menininha muito curiosa, a narrativa compõe um quadro bem humorado, simples e "redondinho", com definição para todas as complicações da vida. 
O que você diria, por exemplo, se lhe perguntassem o que é SOLIDÃO, AGONIA, ANSIEDADE, ORGULHO? Parece difícil, não é? Para a criança do livro, contudo, essas coisas todas podem ser explicadas de maneira muito direta:

- Solidão é uma ilha com saudade de barco.
- Agonia é quando o maestro de você se perde completamente.
- Ansiedade é quando faltam cinco minutos sempre para o que quer que seja.
- Orgulho é uma guarita entre você e o de frente.

E, assim, a menina constrói uma espécie de  "dicionário" com definições simples para as confusões do dia-a-dia. 
A obra em questão teve, em 2001, duas indicações para o Prêmio Jabuti e recebeu o Prêmio Ofélia Fontes, da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil.

Gostou? Dá vontade de ler o livro inteiro, né?
Abraços.

terça-feira, 13 de maio de 2014

ESTAR GANHO & TER GANHADO: ele pensou que tivesse GANHADO na loteria...

Olá, galera! Tudo bem?
Antes de começarmos o assunto desta postagem, precisamos saber o que é particípio. Resumidamente, PARTICÍPIO é uma das formas nominais do verbo, assim como o infinitivo e o gerúndio. Além de apresentarem valor verbal, essas formas também podem desempenhar função de nomes; por essa razão, são chamadas de formas nominais. O particípio (termina em –ado ou em –ido), por exemplo, pode valer por um adjetivo (homem sabido). É imprescindível saber, ainda, que o particípio exprime, basicamente, a conclusão de uma ação verbal.
(*BECHARA, E. Moderna Gramática Portuguesa, 2006, p. 224.)

Muitos verbos apresentam como particípio a FORMA REGULAR terminada em “-ado” (primeira conjugação) ou “-ido” (segunda e terceira conjugações), como:
CANTAR (primeira conjugação): cantado.
CORRER (segunda conjugação): corrido.
PARTIR (terceira conjugação): partido.

Outros verbos, contudo, apresentam duas formas para o particípio: a regular (normal) e a irregular (reduzida). Esses verbos são chamados de abundantes.
ACEITAR: aceitado (particípio regular) e aceito (particípio irregular).
ACENDER: acendido (particípio regular) e aceso (particípio irregular).
IMPRIMIR: imprimido (particípio regular) e impresso (particípio irregular).

Se houver “abundância” (rsrs...), quando devo utilizar a forma regular e quando devo usar a outra? Muito bem... Basta prestar atenção nos verbos que antecedem o particípio em questão. Como eles geralmente formam locuções verbais, o verbo auxiliar será o grande responsável pela determinação do tipo do particípio. Dessa forma, se o auxiliar for o verbo “TER” ou “HAVER”, o particípio será REGULAR; se os auxiliar for “SER” ou “ESTAR”, o particípio ficará na forma reduzida (irregular, portanto).

Sabe aquelas expressões cotidianamente utilizadas por todos nós, como “eu já tinha pago [...]” ou “ele havia ganho muitos prêmios [...]”? Pois é, pessoal... O mais adequado é dizer “eu já tinha PAGADO” e “ele havia GANHADO”. Tudo isso pelo fato de os verbos “pagar” e “ganhar” admitirem as duas formas do particípio e, também, por estarem ladeados pelos auxiliares “ter” e “haver”, o que determina o emprego do particípio regular. O uso das formas irregulares (ter pago, ter ganho, etc.), todavia, já está tão difundido na língua falada, que não mais pode ser taxado como ERRO, mas como uma tendência do falante à hipercorreção ou, ainda, como uma preferência dele pelas formas mais sintéticas (mais curtinhas).
É isso!
Abração.




sábado, 10 de maio de 2014

MAMÃES...

Feliz DIA DAS MÃES para aquelas que são as criaturas mais adoráveis e mais dignas de todo o amor do universo. 
Especialmente para a minha mãe, agora, gostaria de destacar o quanto eu a amo e o quanto sou grata a Deus por ter a companhia e o carinho dela.
Parabéns a todas as mamães! 
Um dia é pouquíssimo para homenageá-las.
Abaixo, acrescento a crônica de Rubem Braga dedicada ao Dias das Mães
Uma boa (e deliciosa) leitura a tod@s! 
Abraços.

MÃE
Rubem Braga

O menino e seu amiguinho brincavam nas primeiras espumas; o pai fumava um cigarro na praia, batendo papo com um amigo. E o mundo era inocente, na manhã de sol.
Foi então que chegou a Mãe (esta crônica é modesta contribuição ao Dia das Mães), muito elegante em seu short, e mais ainda em seu maiô. Trouxe óculos escuros, uma esteirinha para se esticar, óleo para a pele, revista para ler, pente para se pentear — e trouxe seu coração de Mãe que imediatamente se pôs aflito achando que o menino estava muito longe e o mar estava muito forte.
Depois de fingir três vezes não ouvir seu nome gritado pelo pai, o garoto saiu do mar resmungando, mas logo voltou a se interessar pela alegria da vida, batendo bola com o amigo. Então a Mãe começou a folhear a revista mundana — "que vestido horroroso o da Marieta neste coquetel" — "que presente de casamento vamos dar à Lúcia? tem de ser uma coisa boa" — e outros pequenos assuntos sociais foram aflorados numa conversa preguiçosa. Mas de repente:

— Cadê Joãozinho?

O outro menino, interpelado, informou que Joãozinho tinha ido em casa apanhar uma bola maior.

— Meu Deus, esse menino atravessando a rua sozinho! Vai lá, João, para atravessar com ele, pelo menos na volta!

O pai (fica em minúscula; o Dia é da Mãe) achou que não era preciso:

— O menino tem OITO anos, Maria!

— OITO anos, não, oito anos, uma criança. Se todo dia morre gente grande atropelada, que dirá um menino distraído como esse!

E erguendo-se olhava os carros que passavam, todos guiados por assassinos (em potencial) de seu filhinho.

— Bem, eu vou lá só para você não ficar assustada.

Talvez a sombra do medo tivesse ganho também o coração do pai; mas quando ele se levantou e calçou a alpercata para atravessar os vinte metros de areia fofa e escaldante que o separavam da calçada, o garoto apareceu correndo alegremente com uma bola vermelha na mão, e a paz voltou a reinar sobre a face da praia.
Agora o amigo do casal estava contando pequenos escândalos de uma festa a que fora na véspera, e o casal ouvia, muito interessado — "mas a Niquinha com o coronel? não é possível!" — quando a Mãe se ergueu de repente:

— E o Joãozinho?

Os três olharam em todas as direções, sem resultado. O marido, muito calmo — "deve estar por aí", a Mãe gradativamente nervosa — "mas por aí, onde?" — o amigo otimista, mas levemente apreensivo. Havia cinco ou seis meninos dentro da água, nenhum era o Joãozinho. Na areia havia outros. Um deles, de costas, cavava um buraco com as mãos, longe.

— Joãozinho!

O pai levantou-se, foi lá, não era. Mas conseguiu encontrar o amigo do filho e perguntou por ele.

— Não sei, eu estava catando conchas, ele estava catando comigo, depois ele sumiu.

A Mãe, que viera correndo, interpelou novamente o amigo do filho. "Mas sumiu como? para onde? entrou na água? não sabe? mas que menino pateta!" O garoto, com cara de bobo, e assustado com o interrogatório, se afastava, mas a Mãe foi segurá-lo pelo braço: "Mas diga, menino, ele entrou no mar? como é que você não viu, você não estava com ele? hein? ele entrou no mar?".

— Acho que entrou... ou então foi-se embora.

De pé, lábios trêmulos, a Mãe olhava para um lado e outro, apertando bem os olhos míopes para examinar todas as crianças em volta. Todos os meninos de oito anos se parecem na praia, com seus corpinhos queimados e suas cabecinhas castanhas. E como ela queria que cada um fosse seu filho, durante um segundo cada um daqueles meninos era o seu filho, exatamente ele, enfim — mas um gesto, um pequeno movimento de cabeça, e deixava de ser. Correu para um lado e outro. De súbito ficou parada olhando o mar, olhando com tanto ódio e medo (lembrava-se muito bem da história acontecida dois a três anos antes, um menino estava na praia com os pais, eles se distraíram um instante, o menino estava brincando no rasinho, o mar o levou, o corpinho só apareceu cinco dias depois, aqui nesta pr aia mesmo!) — deu um grito para as ondas e espumas — "Joãozinho!".
Banhistas distraídos foram interrogados — se viram algum menino entrando no mar — o pai e o amigo partiram para um lado e outro da praia, a Mãe ficou ali, trêmula, nada mais existia para ela, sua casa e família, o marido, os bailes, os Nunes, tudo era ridículo e odioso, toda essa gente estúpida na praia que não sabia de seu filho, todos eram culpados — "Joãozinho !" — ela mesma não tinha mais nome nem era mulher, era um bicho ferido, trêmulo, mas terrível, traído no mais essencial de seu ser, cheia de pânico e de ódio, capaz de tudo — "Joãozinho !" — ele apareceu bem perto, trazendo na mão um sorvete que fora comprar. Quase jogou longe o sorvete do menino com um tapa, mandou que ele ficasse sentado ali, se saísse um passo iria ver, ia apanhar muito, menino desgraçado!
O pai e o amigo voltaram a sentar, o menino riscava a areia com o dedo grande do pé, e quando sentiu que a tempestade estava passando fez o comentário em voz baixa, a cabeça curva, mas os olhos erguidos na direção dos pais:

— Mãe é chaaata...
 
Maio, 1953. 

Rubem Braga é considerado o melhor cronista brasileiro de todos os tempos.

Disponível em: <http://www.releituras.com/rubembraga_mae.asp>.




segunda-feira, 5 de maio de 2014

As camisas são VERDES, mas as gravatas são CINZA: a flexão das cores

Como é a concordância com nomes indicativos de COR?

Olá!
Dizer ou escrever “AS MINHAS BLUSAS SÃO VERDES” parece ser algo que não deixa espaço para dúvidas. Nesse caso, o adjetivo “verdes” – indicativo de cor – concorda, em número e em gênero, com o substantivo “blusas” (núcleo da oração). A base para a concordância de nomes indicativos de COR é sempre essa, então? Não necessariamente!
Segundo os padrões da norma culta, o mais adequado é dizer, em outro caso, “AS MINHAS BLUSAS SÃO ROSA” (e não ROSAS). Isso tudo pelo fato de “rosa” ser, na morfologia da Língua Portuguesa, um SUBSTANTIVO – diferentemente de “verde”, que é um adjetivo.
Dessa maneira, se o nome indicativo de cor equivaler a um substantivo, não haverá concordância dele com o núcleo. 
Mais exemplos:

- João comprou várias gravatas cinza.
- Marcela prefere os vestidos gelo.
- Eduardo trocou as camisas brancas pelas rosa.

Pessoal, é importante observar que, se o substantivo em questão (cinza, rosa, gelo, etc.) não indicar cor, a flexão dele passa a ocorrer de forma "normal". Dessa maneira, “AS CINZAS DE UM VULCÃO NO CHILE PARALISARAM OS AEROPORTOS LOCAIS”.

Há, ainda, outra dica para a concordância das cores. Se você tiver um adjetivo composto (dois ou mais elementos) que indique cor, deve parar para analisá-lo! Se ele for formado por dois adjetivos (ex.: calças azul-arroxeadas), apenas o último deles será flexionado. Se você tiver, contudo, um caso de adjetivo + substantivo ou vice-versa (substantivo + adjetivo), aí nenhum elemento da composição será flexionado (ex.: azul-petróleo, rosa-escuro, cinza-claro, verde-musgo, azul-pavão, etc.), mesmo se o núcleo da oração estiver no plural.

PORTANTO:
Folhas verde-escuras (adjetivo + adjetivo) => último elemento é flexionado.
MAS:
Camisas verde-piscina (adjetivo + substantivo) => nenhum elemento é flexionado.


Última dica: 
São INVARIÁVEIS os adjetivos "azul-celeste", "azul-marinho" (celeste e marinho, no caso, especificam o tipo do azul) e "ultravioleta".

Vale lembrar que essas regras são as preconizadas pela Gramática Tradicional. Na língua falada, é muito comum que façamos a flexão das cores, ainda que a “norma” destaque um caso em que os elementos são invariáveis (cor = substantivo ou, ainda, adjetivo composto por adjetivo + substantivo). 

É isso!
Abraços.


sexta-feira, 2 de maio de 2014

expoemas

pós-tudo (1984)
augusto de campos

Para interagir com a obra do autor, 
aventure-se pelo seguinte endereço oficial:
<http://www2.uol.com.br/augustodecampos>.
É muito divertido!

Quem é Augusto de Campos?
Poeta, tradutor, ensaísta e crítico literário nascido em 1931, em São Paulo. Com o seu irmão - Haroldo de Campos - e com Décio Pignatari, lançou o movimento de Poesia Concreta no Brasil.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

DRUMMOND e o MUNDO

Os ombros suportam o mundo
Carlos Drummond de Andrade

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.



E assim caminha a humanidade, moçada: frieza e falta de mãos dadas. Aproveito o ensejo para outra reflexão drummondiana – se me permitem –, belissimamente ilustrada por Ceó:



 É isto mesmo o que nos falta: o tempo de NADA, o tempo para aqueles “nadas” que se tornam o nosso "tudo". Pode parecer pieguice, mas o fato é que devemos viver os pequenos prazeres do mundo enquanto ainda há tempo de desfrutá-los. Para fechar, lembremos que, às vezes, "a vida precisa de pausas" (DRUMMOND).