quinta-feira, 1 de maio de 2014

DRUMMOND e o MUNDO

Os ombros suportam o mundo
Carlos Drummond de Andrade

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.



E assim caminha a humanidade, moçada: frieza e falta de mãos dadas. Aproveito o ensejo para outra reflexão drummondiana – se me permitem –, belissimamente ilustrada por Ceó:



 É isto mesmo o que nos falta: o tempo de NADA, o tempo para aqueles “nadas” que se tornam o nosso "tudo". Pode parecer pieguice, mas o fato é que devemos viver os pequenos prazeres do mundo enquanto ainda há tempo de desfrutá-los. Para fechar, lembremos que, às vezes, "a vida precisa de pausas" (DRUMMOND).

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