segunda-feira, 28 de abril de 2014

VOCÊS SABIAM? Dica de Ortografia...

A ortografia da Língua Portuguesa é tão impressionante, que palavras com o mesmo som às vezes são escritas de forma diferente. É o caso de RUSSO e RUÇO.
Quem nunca utilizou a famosa expressão “A COISA ESTÁ RUÇA” para dizer que algo está muito complicado? Pois é... Como vocês perceberam, devemos grafar o termo com cedilha mesmo.
Por outro lado, para designar qualquer coisa que se refira à Rússia (pessoas, comidas ou paisagens russas, por exemplo), devemos grafar a expressão com “ss”.

RESUMINHO:
- para situações complicadas ou adversas: RUÇO ou RUÇA 
(Ex.: A situação em casa está ruça ultimamente).
- para coisas referentes à Rússia: RUSSO ou RUSSA 
(Ex.: Fui a um restaurante russo na semana passada).

Notem que é fácil saber diferenciar uma situação da outra. A coisa não está tão ruça assim, pessoal! 
Abração.


quinta-feira, 24 de abril de 2014

“Saiu de casa pai e filho” & “Saíram de casa pai e filho”: concordância verbal

Olá, amigos concurseiros e vestibulandos! Como estão?

Sabemos que o conteúdo de CONCORDÂNCIA VERBAL e NOMINAL sempre é cobrado pelas provas de concursos públicos e de vestibulares. Não é à toa que isso ocorre, galera. No nosso dia-a-dia, tanto na fala quanto na escrita, recorremos (de acordo, ou não, com a norma culta) à concordância verbal e nominal com muita frequência.
Enfim, hoje abordaremos, de maneira mais específica, algumas questões relacionadas à concordância VERBAL, que é – conforme indicado pelo próprio nome da expressão – aquela que ocorre entre o VERBO da oração e o sujeito. Vamos lá!
Basicamente, até o momento em que o nosso sujeito é simples, tudo parece muito fácil: o verbo deve concordar, em número e em pessoa, com o sujeito da oração.
Exemplo:
Os leitores de Gabo se entristeceram com a morte do escritor.
- sujeito: simples, com núcleo na terceira pessoa do plural.
- verbo: terceira pessoa do plural.

As dificuldades começam a surgir a partir do momento em que o sujeito é classificado como COMPOSTO, isto é, quando apresenta dois ou mais núcleos. Nesse caso, o que devemos fazer para estabelecer a concordância entre o verbo e os múltiplos núcleos do sujeito? Muitos podem dizer: “basta concordar com todos os núcleos e deixar o verbo no plural”, mas será que isso é, de fato, suficiente? Se assim fosse, uma ocorrência como Saiu de casa o pai e o filhodeveria estar inadequada, segundo os padrões normativos da variante culta da LP. Afirmo-lhes, no entanto, que a concordância acima está “correta” (como gostam de dizer os puristas), assim como também está adequada a concordância de “Fomos nós quem fez o trabalho de Língua Portuguesa”. Por quê? Com base nisso, vou passar algumas regrinhas que considero como as “mais fundamentais" de concordância verbal.


CONCORDÂNCIA VERBAL:
A) Com sujeito composto antes do verbo:
O verbo concorda com todos os núcleos do sujeito e, dessa forma, flexiona-se no PLURAL.
Exemplo:O pai e o filho saíram de casa”.

B) Com sujeito composto depois do verbo:
Há duas possibilidades: o verbo pode concordar com todos os núcleos do sujeito (flexiona-se no plural, portanto) ou pode concordar apenas com o núcleo mais próximo (fica no singular).
Exemplo: Saíram de casa o pai e o filho” OU “Saiu de casa o pai e o filho”.
No último caso, o verbo “sair” concorda apenas com o núcleo mais próximo (“pai”, ainda que “filho” também seja núcleo do sujeito composto “o pai e o filho”).

C) Com sujeito composto por pessoas gramaticais diferentes:
O verbo deverá ir para o plural da pessoa que prevalece. Quanto à “hierarquia” das pessoas gramaticais, temos o seguinte: a 1ª pessoa prevalece sobre a 2ª e a 3ª; a 2ª pessoa prevalece sobre a 3ª. Trocando em miúdos, a 1ª pessoa prevalece sobre todas as outras; depois, vem a 2ª e, por último, a 3ª (como em uma ordem crescente normal). Assim, seguem os exemplos:
- Eu e tu, Clarinha, devemos partir logo daqui. → 1ª pessoa do plural (1ª sobre a 2ª).
- Eu e o Carlos queremos organizar uma grande festa à fantasia. → 1ª pessoa do plural (1ª sobre a 3ª).
- Tu e os teus amigos deveis procurar ajuda. → 2ª pessoa do plural (2ª sobre a 3ª).

D) Sujeito = pronome relativo “QUE”:
Nesse caso, o verbo concorda, em número e em pessoa, com o antecedente do pronome. Há, ainda, outras regras, mas essa é a mais frequente.
Exemplos:
Fui eu que falei para vocês ficarem em casa.
Foram eles que preferiram mudar de cidade.

E) Sujeito = pronome relativo “QUEM”:
Diferentemente do item anterior, o sujeito, aqui, deve permanecer – segundo as normas mais tradicionais – na terceira pessoa do singular, uma vez que não estabelece concordância com o antecedente do pronome, mas com o próprio pronome (“quem”), que está na 3ª p. s.
Exemplos:
Fui eu quem mandou o anúncio para você.
Fomos nós quem preparou o jantar de hoje. [PODE SOAR ESTRANHO, MAS É ISSO MESMO!]
Cabe ressaltar que alguns autores já aceitam a concordância do verbo com o antecedente do pronome “quem” (principalmente nos casos em que esse antecedente está no plural). Na dúvida, entretanto, é sempre bom seguir a regra padrão.

F) Com expressão partitiva (parte de, metade de, o resto de, etc.) + nome no plural:
Ocorrem duas possibilidades: o verbo pode concordar com a expressão partitiva (permanece no singular) ou pode concordar com o nome no plural. Nesse caso, depende muito da ideia que se pretende destacar – se noção de parcela, se noção de todo.
Exemplos:
A maior parte dos pais não consegue dizer “não” para os filhos.
A maior parte das crianças de hoje já sabem lidar com as novas tecnologias.

G) Sujeitos correlacionados pelas expressões “não só..., mas também” e “tanto... quanto”:
Na grande maioria das vezes, o verbo vai para o plural.
Exemplos:
Não só a obra literária de Machado de Assis, mas também a biografia dele me encantam.
Tanto as provas da VUNESP quanto as da ESAF costumam cobrar concordância verbal em Língua Portuguesa.

H) Sujeito denota quantidade aproximada:
Com expressões como “cerca de”, “mais de”, “menos de” e similares, o verbo concorda com o substantivo.
Exemplos:
[Mais de] um soldado voltou ferido da guerra.
[Menos de] dois litros de água foram bebidos hoje.
[Cerca de] duzentas mil pessoas já se inscreveram para o concurso.


Pessoal, há muitas outras regras de concordância verbal. Eu apenas explicitei, aqui, as que costumam causar maior confusão. A maioria dos demais casos admite as duas flexões do verbo (singular ou plural), assim como no exemplo de concordância verbal com expressão partitiva + nome plural.
Antes de encerrar o assunto, gostaria de destacar que, ainda que seja imprescindível ter o domínio das normas gramaticais da LP para conseguirmos a tão sonhada vaga nos serviços públicos ou na faculdade, não podemos reduzir o português à gramática. Na verdade, todas essas regras da norma culta são necessárias e devem ser conhecidas, mas elas não são a única variante da língua portuguesa.
Espero ter ajudado.  Bons estudos para nós!
Um abraço.


PLUS!
Exemplo de questão de concordância verbal:

VUNESP-2013 (PC-SP – Agente de Polícia)
(A) A comunicação e a confiança dos filhos serão aumentadas se os pais responderem às perguntas feitas por eles com clareza e simplicidade.  
(B) A comunicação e a confiança dos filhos será aumentadas se os pais responderem às  perguntas feitas por eles com clareza e simplicidade.
(C) A comunicação e a confiança dos filhos será aumentada se os pais  responderem às perguntas feitas por eles com clareza e simplicidade.
(D) A comunicação e a confiança dos filhos serão aumentada se os pais responderem às perguntas feitas por eles com clareza e simplicidade.
(E) A comunicação e a confiança dos filhos serão aumentadas se os pais responderem às perguntas feita por eles com clareza e simplicidade.

Qual resposta está “correta”? Item A. Por quê? Nessa questão, mesclam-se regras de concordância VERBAL e NOMINAL. No que se refere ao tópico que discutimos hoje (conc. verbal), ressalta-se que o sujeito composto [“a comunicação e a confiança dos filhos”] vem ANTES do verbo, que deve flexionar-se no plural para concordar com os dois núcleos do sujeito. A alternativa E também flexionou o primeiro verbo de modo adequado, mas, em “perguntas feita”, há um problema de concordância nominal. Pronto!


terça-feira, 22 de abril de 2014

Sujeito indeterminado ou voz passiva sintética?

Olá, pessoal! 
O tema de hoje é muitíssimo cobrado por diversas bancas de concursos públicos e de vestibulares. É um assunto clássico e, portanto, TEM DE SER ESTUDADO. Tenho percebido que a matéria que discutiremos agora, de fato, consiste em uma dúvida quase universal dos concurseiros e dos vestibulandos. Sem mais mistérios, vamos ao que interessa!



Todo o mundo vê por aí aquele monte de anúncios de venda/aluguel de bens móveis ou imóveis. Também é declarada, via propaganda, a necessidade de contratação de funcionários, por exemplo. Na hora de escrever a mensagem, no entanto, surge a dúvida:
"VENDE-SE CASAS" ou "VENDEM-SE CASAS"?
"PRECISA-SE DE FUNCIONÁRIOS" ou "PRECISAM-SE DE FUNCIONÁRIOS"?

E agora? Esse “problema” é, na verdade, um simples caso de análise do SUJEITO da oração. Na Língua Portuguesa, há cinco tipos de sujeito: simples, composto, desinencial (oculto), indeterminado e inexistente (oração sem sujeito). Para a resolução da dúvida levantada no início desta postagem, vamos passar diretamente para o exame do chamado “sujeito indeterminado”. Como o próprio nome informa, esse tipo de sujeito não está claro, mas, sim, indefinido/impreciso. Muitas vezes, não se pode ou não se deseja indicar o sujeito de uma oração, o qual é tido, por isso, como INDETERMINADO. Esse sujeito ocorre apenas em duas situações:

A) Com verbo na terceira pessoa do plural, sem referência a nenhum nome já expresso.
      Ex.: Fizeram muito barulho na festa de ontem.
B) Com verbo na terceira pessoa do singular + “se”. Esse verbo, no entanto, precisa ser intransitivo (VI), transitivo indireto (VTI) ou de ligação (VL).
      Ex.: Construiu-se muito nos últimos tempos.

Quando se diz “fizeram muito barulho” ou “construiu-se muito”, pode-se entender que ALGUÉM (não sabemos quem) fez barulho ou que ALGUÉM (também poderia ser “muita gente”, de modo indefinido) tem construído bastante ultimamente.
O grande “pulo do gato” do sujeito indeterminado é que, com verbos na terceira pessoa do singular, é necessário analisar a classificação verbal (se há, necessariamente, VI, VTI ou VL). Se o verbo pertencer a outra categoria (VTD ou VTDI – ou seja, se tiver alguma relação com objeto direto), NÃO TEREMOS UM CASO DE SUJEITO INDETERMINADO, mas outro tipo de sujeito.

Pessoal, antes de entramos no assunto referente às outras categorias de verbo (VTD ou VTDI na terceira pessoa), é preciso ter em mente o seguinte: se houver um verbo seguido da partícula “se”, vamos parar para analisá-lo. Se ele for VI, VTI ou VL, o sujeito será indeterminado e, por isso, o verbo deverá permanecer no SINGULAR. Essa partícula, no caso, funciona como um indicativo de indeterminação do sujeito (é chamada, por isso, de índice de indeterminação do sujeito). Logo,

-PRECISA-SE DE FUNCIONÁRIOS.
(“precisar” = VTI, “de funcionários” = OI), verbo no singular, pois o termo “funcionários” não é o seu sujeito, mas parte do seu objeto indireto (“de funcionários”). O sujeito está indeterminado.
-VIVE-SE BEM.
(“viver” = VI), verbo no singular. Sujeito indeterminado.
-ERA-SE MUITO FELIZ NAQUELA ÉPOCA.
(“ser” = VL), verbo no singular. Sujeito indeterminado.

Se o verbo já estiver na terceira pessoa do PLURAL, SEM a partícula “se”, aí não há dúvida alguma: o sujeito é indeterminado, sem a necessidade de analisar o tipo do verbo (só é preciso analisar se existir o índice “se” posterior ao verbo).
Se houver, contudo, partícula “se” e, ainda, VTD ou VTDI, teremos um caso de VOZ PASSIVA SINTÉTICA (com sujeito simples ou composto). Nessas situações, o verbo deve flexionar-se de acordo com o sujeito da passiva (singular ou plural):
* VENDE-SE ESTA CASA =>o sujeito da passiva é “esta casa”.
* VENDEM-SE CASAS => o sujeito da passiva é “casas” (plural).

Se você tiver um verbo acompanhado do pronome “se” e ainda estiver com dúvidas no momento da classificação verbal (VI, VTI, VL, VTD, VTDI), pense no seguinte: eu consigo transformar a oração em uma voz passiva ANALÍTICA (aquela estrutura passiva que é maior)? Se você conseguir, PARABÉNS! Você tem, então, um caso de passiva sintética (“se” = pronome apassivador), e não de sujeito indeterminado, já que somente uma oração na voz passiva sintética ou na voz ativa (com VTD ou VTDI) pode ser transformada em voz passiva analítica. 
Exemplo:
APLICOU-SE A PROVA => A PROVA FOI APLICADA.
(voz passiva sintética) => (voz passiva analítica)

No exemplo acima, a conversão foi possibilitada pelo fato de o verbo “aplicar” ser transitivo direto (na voz ativa, ocorre: “Aplicaram a prova”).

Como a explicação ficou um pouco extensa, segue um resumo para todos nós. Espero que tenham gostado da postagem. 
Ainda nesta semana, divulgarei mais matérias de LP para concursos e vestibulares.
Abração.


RESUMINHO BÁSICO PARA A TURMA:
               
Para que ocorra SUJEITO INDETERMINADO:
Verbo na terceira pessoa do PLURAL, sem referência a nenhum nome anteriormente expresso.
Verbo na terceira pessoa do SINGULAR + “se” (índice de indeterminação do sujeito), desde que o verbo seja classificado como VI, VTI ou VL. => Neste último caso, o verbo PERMANECE no singular, independentemente do termo que o segue.
Ex.: Precisa-se de funcionários.
OBS: Não há como passar a oração acima para a voz passiva analítica (“Funcionários são precisos”???). O resultado é, no mínimo, estranho.

Para que ocorra VOZ PASSIVA SINTÉTICA:
Verbos que sejam classificados como VTD ou VTDI + “se” (pronome apassivador). Neste caso, pode-se passar a oração da voz passiva sintética para a passiva analítica, normalmente. O verbo deve concordar com o sujeito paciente; por essa razão, flexiona-se no plural caso o sujeito também esteja no plural.
Ex.: Alugam-se apartamentos.
               ↓
Apartamentos são alugados (VOZ PASSIVA ANALÍTICA, com sujeito paciente = “apartamentos”).
               ↓
Alugam apartamentos (VOZ ATIVA).



sábado, 19 de abril de 2014

Uma PÁSCOA cheia de maravilhas...


LEITE DERRAMADO: as confusões da memória

Enquanto eu lia Leite Derramado, de Chico Buarque, deparei-me com uma passagem que me deixou intrigada com a questão da fragilidade da memória. O narrador ancião, em um leito de hospital, reflete sobre a condição tumultuada e tênue dos seus próprios pensamentos: uma miscelânea de lembranças e de situações presentes. Tive medo das peças que o meu cérebro pode um dia me pregar. Comecei a pensar, ainda mais, nas pessoas que já sofrem por conta desse problema. A cabeça é, de fato, tudo! Segue um trechinho:

Aquela que veio me ver, ninguém acredita, é minha filha. Ficou torta assim e destrambelhada por causa do filho. Ou neto, agora não sei direito se o rapaz era meu neto ou tataraneto ou o quê. Ao passo que o tempo futuro se estreita, as pessoas mais novas têm de se amontar de qualquer jeito num canto da minha cabeça. Já para o passado tenho um salão cada vez mais espaçoso, onde cabem com folga meus pais, avós, primos distantes e colegas da faculdade que eu já tinha esquecido, com seus respectivos salões cheios de parentes e contraparentes e penetras com suas amantes, mais as reminiscências dessa gente toda, até o tempo de Napoleão. Veja só, neste momento olho para você, que toda noite está aqui comigo tão amorosa, e fico até sem graça de perguntar seu nome de novo. Em compensação, recordo cada fio da barba do meu avô, que só conheci de um retrato a óleo. E do livrete que deve estar por aí na cômoda, ou lá em cima na cabeceira da minha mãe, pergunte à arrumadeira. É um pequeno livro com uma sequência de fotos quase idênticas, que em folheada ligeira dão a ilusão de movimento, feito cinema. Retratam meu avô a caminhar em Londres, e em criança eu gostava de folhear as fotos de trás para diante, para fazer o velho dar marcha a ré. É com essa gente antiquada que sonho, quando você me põe para dormir. Eu por mim sonhava com você em todas as cores, mas meus sonhos são que nem cinema mudo, e os atores já morreram há tempos.
Chico Buarque de Hollanda – LEITE DERRAMADO, Cap. 3, grifos meus.

O livro é maravilhoso! As discussões do narrador vão muito (mas muito!) além das confusões da memória. A leitura da obra vale a pena, com toda a certeza.


quinta-feira, 17 de abril de 2014

GABO!

Com tristeza, o mundo se despede de um dos maiores escritores contemporâneos: Gabriel García Márquez. A obra do autor, no entanto, permanece e eterniza-se.
"Comecei a escrever por acaso, talvez somente para mostrar a um amigo que minha geração era capaz de produzir escritores. Depois caí na armadilha de continuar a escrever, por gosto. Aos doze anos estive a ponto de ser atropelado por uma bicicleta. Um cura que passava me salvou com um grito: 'Cuidado!' O ciclista caiu por terra. O cura, sem parar, me disse: 'Viu o poder da palavra?' Nesse dia eu soube."

(Gabriel García Márquez)

Todo o reconhecimento e todos os aplausos do universo ao fantástico Gabo.


“MAIS BEM educado” ou “MELHOR educado”?: de olho no particípio

Olá, pessoal! Tudo tranquilo?
O assunto desta postagem dá sequência às recomendações da gramática tradicional. Veremos agora como diferenciar o uso de “MAIS BEM” e “MELHOR”.
PREFERENCIALMENTE, recomenda-se o emprego da forma “mais bem” antes de adjetivo-particípio:

A) Os alunos estão mais bem preparados neste ano.
B) As crianças deveriam ser mais bem educadas pelos próprios pais.
C) Você já esteve mais bem acompanhado.

Eu deixei o termo “preferencialmente” em caixa-alta por um único motivo: também são muito utilizadas construções do tipo “você já esteve melhor acompanhado" (a grande maioria das pessoas pensa que essa é a forma mais adequada). A boa e velha norma culta, no entanto, prioriza o uso da expressão “mais bem” antes de particípios (em resumo, formas verbais parecidas com adjetivos finalizados em “-ado” ou em “-ido”). Quando não houver particípio subsequente, aconselha-se o emprego de “melhor” para a construção de comparativos de superioridade e de superlativos relativos:

A) É melhor ficar em casa do que correr o risco de encontrar o João.
B) A Joana é a melhor aluna da sala.
                    
A “regrinha” é, em suma, esta: antes de particípio-adjetivo, utilize “mais bem” (parece estranho, mas está certo). Se não houver particípio-adjetivo, utilize "melhor".
Muitos falantes, contudo, tendem a usar o advérbio “melhor” antes do particípio por uma tendência de hipercorreção natural do indivíduo. Como assim? Já escrevi em outra postagem que o grau comparativo/superlativo de “bom” é irregular e, portanto, não pode ser “mais bom”. O falante tende a imaginar que a construção “mais bem” também está inadequada e, dessa maneira, opta pelo uso de “melhor” + particípio.
Ocorre que o intensificador “mais” incide não apenas sobre o advérbio “bem”, mas sobre o conjunto [“bem” + particípio]. De acordo com Neves (2003, p. 494), usa-se, primeiramente, o advérbio de modo “bem” junto do particípio:
1) bem + desempenhado.
Em seguida, emprega-se o advérbio “mais” para intensificar a construção toda:
2) mais +[bem desempenhado].
3) mais bem desempenhado.
É só isso.
Excelente feriado amanhã!
=)


Referência: 
NEVES, M. H. M. Guia de uso do português: confrontando regras e usos. São Paulo: UNESP, 2003.

terça-feira, 15 de abril de 2014

Dica de gramática: "PERCA ou PERDA total"?

Olá, pessoal! Tudo bom?

Desta vez, quero destacar as diferenças entre duas palavrinhas muito confundidas pelas pessoas no momento da fala ou da escrita (ao menos, tenho notado que essa confusão é bem frequente): “PERCA” e “PERDA”. Quando utilizar cada uma delas, já que ambas existem, mas apresentam contextos de uso distintos?
Bom, a diferença é simples:

a) PERCA: verbo (flexão da forma verbal “perder”) conjugado na terceira pessoa do singular do modo imperativo ou do subjuntivo.
Exemplos:
Meus pais não querem mais que eu PERCA tempo com besteira (subjuntivo).
* Eu espero que ele não PERCA esta oportunidade de emprego (subjuntivo).
* Não PERCA a cabeça, por favor! (imperativo).
* Não PERCA nunca a esperança (imperativo).
               

b) PERDA: substantivo feminino (ação ou resultado de perder algo ou alguém; privação de algo antes possuído). Em virtude da sua natureza nominal, a palavra “perda” admite determinantes em seu entorno; ou seja, admite artigos (definidos e indefinidos), pronomes, adjetivos ou numerais capazes de determiná-la, especificá-la ou modificá-la:   
Exemplos:
* Argumentar com pessoas teimosas é PERDA de tempo.
* A PERDA prematura da esposa deixou-o completamente abalado.
* Aquela PERDA de contato entre eles resultou no fim da amizade.
PERDAS e ganhos fazem parte da vida de todos.
* O carro deu PERDA total (esta oração é a campeã da troca de “perda” por “perca”).


Muita gente ainda confunde esses dois termos em decorrência da proximidade gráfica e sonora existente entre ambos. Eles são chamados, por isso, de PALAVRAS PARÔNIMAS. Como puderam perceber, até os “erros de gramática” são motivados! Nada é aleatório.
Lembrem-se do seguinte: se você puder colocar um artigo ou qualquer outro determinante (adjetivo, por exemplo) antes ou após a palavra que quer utilizar – “PERDA” ou “PERCA” –, o uso adequado dela será PERDA (substantivo). Dizer “a perca do campeonato” fica estranho (além de inapropriado!), não é?

Espero ter ajudado.
Até mais!


sábado, 12 de abril de 2014

RECADINHO: novo "modelito" para o blog

Pessoal, tudo bom?
Conforme vocês já puderam notar, o nosso blog mudou de "cara". Prometo que isso não vai acontecer com frequência; afinal, identidade é identidade (mas, às vezes, é muito bom dar uma repaginada).
Espero que tenham gostado.
Grande abraço.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

A oração de J. L. Borges

Pessoal, tudo bem?
Não resisti e tive a necessidade de compartilhar este texto de Borges. 
O que dizer dele? Traz uma verdade pungente e sem aparatos. Tocante! 
Um pouco de Literatura por hoje...


"Uma oração"
Jorge Luís Borges (1899-1986)


Minha boca pronunciou e pronunciará, milhares de vezes e nos dois idiomas que me são íntimos, o pai-nosso, mas só em parte o entendo. Hoje de manhã, dia primeiro de julho de 1969, quero tentar uma oração que seja pessoal, não herdada. Sei que se trata de uma tarefa que exige uma sinceridade mais que humana. É evidente, em primeiro lugar, que me está vedado pedir. Pedir que não anoiteçam meus olhos seria loucura; sei de milhares de pessoas que vêem e que não são particularmente felizes, justas ou sábias. O processo do tempo é uma trama de efeitos e causas, de sorte que pedir qualquer mercê, por ínfima que seja, é pedir que se rompa um elo dessa trama de ferro, é pedir que já se tenha rompido. Ninguém merece tal milagre. Não posso suplicar que meus erros me sejam perdoados; o perdão é um ato alheio e só eu posso salvar-me. O perdão purifica o ofendido, não o ofensor, a quem quase não afeta. A liberdade de meu arbítrio é talvez ilusória, mas posso dar ou sonhar que dou. Posso dar a coragem, que não tenho; posso dar a esperança, que não está em mim; posso ensinar a vontade de aprender o que pouco sei ou entrevejo. Quero ser lembrado menos como poeta que como amigo; que alguém repita uma cadência de Dunbar ou de Frost ou do homem que viu à meia-noite a árvore que sangra, a Cruz, e pense que pela primeira vez a ouviu de meus lábios. O restante não me importa; espero que o esquecimento não demore. Desconhecemos os desígnios do universo, mas sabemos que raciocinar com lucidez e agir com justiça é ajudar esses desígnios, que não nos serão revelados.
Quero morrer completamente; quero morrer com este companheiro, meu corpo.


Disponível em: <http://www.releituras.com/jlborges_menu.asp>.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

“JURASSIC PARK” – “JURACI, QUE PARQUE?”: sílaba tônica e mudança de sentido

Olá, pessoal!

Vocês já pararam para pensar na importância do acento na língua? Refiro-me ao acento tanto em seu aspecto gráfico (marcado pelos sinais agudos, graves ou circunflexos) quanto em seu aspecto fonético. Vamos começar a notar as diferenças de sentido que a posição do acento ocasiona na palavra! Para começar, tomemos dois termos cuja grafia é idêntica caso desconsideremos a diferença dos acentos silábicos:

a) FÁBRICA: nome substantivo (instalação industrial em que se desenvolvem produtos).
b) FABRICA: verbo na terceira pessoa do singular (Ex.: A minha vizinha fabrica bolsas de pano).

Os dois termos são escritos da mesma maneira, à exceção da presença do acento agudo na primeira sílaba do item “a”. Esse acento faz toda a diferença, já que distingue duas situações: a instalação física da indústria em que são desenvolvidos os objetos e a ação de desenvolver esses produtos.
O mesmo caso ocorre com várias outras palavras, por exemplo:

c) PARA: preposição (Pretendo ir para a praia no final desta semana).
d) PARÁ: substantivo próprio (A minha tia mora no estado do Pará).

Também existe um famosíssimo trava-língua que ilustra muito bem a importância da posição do acento tônico para a distinção das palavras e dos sentidos delas:


“Sabia que o sabiá sabia assobiar?
A sábia não sabia 
que o sábio sabia 
que o sabiá sabia 
que o sábio não sabia
que o sabiá não sabia 
que a sábia não sabia
que o sabiá sabia assobiar.

As palavras “sabiá”, “sabia” e “sábia” são perfeitas para mostrar que a mudança da localização do acento resulta na alteração de sentido do vocábulo. Neste último caso, cada uma das três palavras apresenta uma sílaba tônica diferente (SABI[Á] – SA[BI]A – []BIA). Perceberam como a sílaba tônica faz toda a diferença? E o que dizer da música “Seguindo em frente”, de Almir Sater, especialmente neste trecho, em que fica bem saliente a função distintiva dos acentos:

“Conhecer as manhas e as manhãs
O sabor das massas e das maçãs.”

Já que entramos no plano da música, vou finalizar esta mensagem com uma canção inteligente e repleta de humor linguístico que me foi apresentada, há algum tempo, por minha professora de Fonologia. A música, de Zeca Baleiro, é intitulada “O parque da Juraci”; nela, é feita uma brincadeira com os acentos das palavras de dois idiomas diferentes: o português e o inglês. Segue a letra:


O PARQUE DA JURACI
(Zeca Baleiro)

Dedico esse tecno-xaxado a Steven Spielberg e Genival Lacerda
Pau na máquina

Juraci me convidou pra eu ir
No parque mais ela lá em birigui
E eu vesti o meu terninho engomado
Alisado, alinhado pra brincar com Juraci

Já no caminho eu comi um churrasquinho de charque
E um suco de saputi
E foi ficando divertido pra caramba, Juraci dançando samba
Enquanto eu lia O Guarani

Mas lá chegando eu tive o maior susto
Tentei a todo custo não crer no que vi
no lugar do parque um self-service por quilo
Fiquei puto com aquilo e perguntei pra Juraci

Juraci, que parque?
Juraci, que parque?
Juraci, que parque é esse que eu nunca vi?

Juraci, que parque?
Juraci, que parque?
Juro por Deus que eu quebrei o pau com Juraci

[...]

No refrão, o efeito chistoso da música é criado pela referência ao filme norte-americano Jurassic Park, de Steven Spielberg. Soma-se à proximidade sonora das palavras “Jurassic Park” e “Juraci, que parque?” a semelhança do posicionamento da sílaba com maior tonicidade em Língua Portuguesa. Na realidade, há, na fala, uma manipulação dos acentos mais proeminentes para que seja criada maior similaridade entre as duas sequências nos dois idiomas. Explico-me melhor...
No dia-a-dia, é comum pronunciarmos algumas expressões da Língua Inglesa de maneira mais “aportuguesada”, como no caso de “Jurassic Park”. Muitas pessoas, em vez de pronunciarem em inglês o título do filme, tentam adaptar o “sotaque” para o português. Nesse caso, a posição do acento é alterada e a proximidade com a expressão “Juraci, que parque?”, em termos acústicos, torna-se maior.

Jurassic Park (acento em inglês)
Jurassic Park (acento em inglês “aportuguesado”)
Juraci que parque [a fronteira entre a sílaba tônica “-ci” e a palavra “que” quase desaparece na fala]

Manipulamos, no nosso cotidiano, a localização do acento e criamos, com isso, situações de ambiguidade e de comicidade, como a da música de Zeca Baleiro.

Valeu, pessoal! Até mais!

***LEMBRETE:
Nem sempre a sílaba tônica (a mais forte da palavra) é marcada por acento gráfico. Algumas vezes, o acento é apenas de natureza fonética, como na palavra “saBIa” (verbo na terceira pessoa do singular), em que a sílaba tônica (“-bi”) não recebe acentuação gráfica.

https://www.youtube.com/watch?v=UxIEdzmuWhE